A ETERNA “LA BOHÉME” DE PUCCINI NO TEATRO COLÓN, MUITO APLAUDIDA. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Estreou no dia 13 de outubro no Teatro Colón de Buenos Aires, mais uma vez “La Bohème” de Giacomo Puccini, (1858-1924), compondo a sexta producão desta temporada de 2018. Com quatro quadros inspirados em “La Vie de Bohème”, de Henry Murger, tem libreto de Giuseppe Giacosa e Luigi Illica. O elenco encabeçado pelo tenor paraense Attala Ayan, é dirigido pelo regisseur Stefano Trespidi que agilizou a cena com conhecimento e equilíbrio. Ao abrir a cortina no segundo quadro, o público que superlotou o Colón aplaudiu, tamanha beleza cênica. Merece destaque também o terceiro, pela singeleza da poética configuração cenográfica. Figurinos sob desenho de Imme Moller de apropriação e boa opçao. Cenografia e iluminação de Enrique Bordolini de excelência visual.
O êxito do espetáculo se deve a um regente de autoridade e competência e Joseph Colaneri dominou a orquestra equilibrando-a sobre as vozes realçando-as em acordo perfeito entre as partes , as quais mostram características impressionistas em sua harmonia (quintas paralelas) em harmonia de impecável orquestração.
O tenor Gustavo López Manzitti (Argentina) assumiu na récita de 13/10 o papel de Rodolfo. Preencheu o personagem de belas passagens líricas em sonoridades bastante satisfatórias. Che gelida manina foi cantada com tranquilidade e lirismo e cenicamente ele domina seu papel. Venceu o personagem ! A enfermiça e patética Mimi ouviu-se na voz do soprano lírico Marina Silva, a cantora de Rosario (Argentina) jovem e bela; demonstrou um timbre bonito e aquecido para o seu mister. As notas mais agudas tendem a semitonar, todavia a ária Addio, senza rancor; emocionou-me pela sua interpretação, arrancando lágrimas e muitos aplausos da plateia. Seus papéis Zemfira (Aleko); princesa estrangeira em Rusalka e a Sophie de Rosenkavalier; Micaela, Mimi ou a Liú de Turandot, lhe são muito apropriados.
Marcello e Musetta oferecem grandes oportunidades aos seus intérpretes: Vinícius Atique (Brasil); é um Marcello sensual e chama a atenção do público. Vocalmente ele amadurecerá com o tempo, porém estabeleceu-se de forma muito correta em suas intervenções. Soubemos que ele fará o Ping de “Turandot” (Novembro) em nosso Theatro Municipal, em São Paulo. O soprano lírico mais encorpado Paula Almerares reafirmou as suas qualidades emprestadas numa carreira internacional com mais de 80 óperas já cantadas. Regida já por Zubin Metha, Lorin Maazel, Julius Rudel e Isaac Karabtchevsky, empregou a sua habilidade cênica engrandecendo o espetáculo numa interpretação intensa e apaixonada. No quarteto (Quadro III) os quatro cantores revelaram as suas reais possibilidades canoras e artísticas.
Paula Almerares (Musetta) no agitado Café Momus (Quadro II); cena 3
Leonardo Fontana fez um Colline regular e bem cenicamente, Cristian Maldonado um Shaunard de excelência musical e cênica; Gustavo Gibert poderia se caracterizar bem melhor para o velho Benoit (de aparência ágil e muito jovem); Enzo Romano um ótimo Alcindoro; Sergio Spinamuito audível e afinado no Parpignol; Leandro Sosa (Aduaneiro) e Luiz Loaiza Isler (Guardia), satisfatórios e convincentes. Maria Liz R. Bellini (afinadíssima / solista do coro infantil). Miguel Martinez preparou muito bem o Coro Estável do Teatro Colón.
A co-produçao de “La Bohême” com a Ópera de Tenerife (Espanha) resultou num espetáculo grandioso, o que faz o público derramar lágrimas e se deleitar em aplausos ao final do evento artístico. Esperamos que em 2019 tenhamos uma Turandot, Thaís ou Tanhauser do nível desta La Bohême, ou ainda a esplêndida Lo Schiavo, do imortal compositor Carlos Gomes, (Brasil).
Marco Antônio Seta viajou a Buenos Aires especialmente para esta estreia de La Bohême.
* As fotos são de Maximo Parpagnoli (fotógrafo do Teatro Colón).
Escrito por Marco Antônio Seta, em 14 de Outubro de 2018, em Buenos Aires.
Inscrito Jornalista sob no. 61.909 MTB / Sao Paulo / Brasil
Nascido em São Paulo, Diplomado em piano no Conservatório Musical “Dr. Carlos de Campos”, em Tatuí, São Paulo, com cursos de teoria,
Harmonia, Contraponto e História da Música paralelamente. É licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, da Universidade Camilo Castelo Branco (São Paulo, Brasil).